quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Super Man



― O que você tem vontade de fazer quando se formar? ― Ela questionou, me fazendo a olhar. Ela estava largada no puff rosa ao lado da cama, com o notebook em seu colo, fazendo algo para faculdade. ― Digo, faltam apenas dois meses para você se formar no ensino médio e nunca vi você comentar a respeito de faculdade, emprego ou sonhos.

― Não sei. ― Sussurrei permanecendo deitado em sua cama, voltando a prestar atenção no filme que passava na televisão.

― Não sabe?

― É. Não sei. ― Dei os ombros pensando que ela voltaria sua atenção para o notebook, entretanto isto não ocorreu.

― Faltam apenas dois meses, você tem que ter algo em mente.

― Mas eu não sei, ok? Eu não tenho tudo planejado como você, eu simplesmente nunca parei para pensar e planejar meu futuro e você sabe bem disso.

Ela calou-se e eu voltei a assistir o filme. Após cerca de meia hora, ela sentou-se ao meu lado com o notebook em mãos, assim que ela colocou-o sobre minha perna ― forçando-me a sentar ―, notei que a página aberta no navegador era de uma universidade qualquer e pelo que parecia havia as descrições de cursos, suas durações e tudo que alguém precisava saber a respeito.

― Vamos decidir juntos, que tal? ― Ela disse animada.

― Alice, não! Eu não vou decidir nada agora, ok? ― Respondi visivelmente irritado. ― Não suporto essa sua mania de tentar controlar o futuro. ― Ela fez aquela cara de choro misturado com irritação e tomou o notebook do meu colo com certa agressividade. Somente naquele instante percebi o quão grosso havia sido.

― Tudo bem Eduardo, mas quem não vai ter futuro é você. ― Ela deixou o notebook sobre sua escrivaninha e em passos rápidos saiu do próprio quarto, batendo a porta com força. Voltei a me deitar, tampando meu rosto com as mãos e me sentindo o pior namorado de todos.

[30 minutos depois]

― Alice. ― Gritei da porta de seu quarto.

― O que foi? ― Gritou do andar de baixo.

― Corre aqui, tá passando aquele filme que você gosta. Aquele de Natal que tem “amor” no nome, que é britânico e tem o professor de cabelo grande do Harry Potter.

Eu tinha certeza que em menos de cinco minutos ela subiria correndo. Então antes dela chegar ao quarto, subi em sua cama e a esperei, quando a vi adentrar o quarto, saltei da cama, fazendo-a se assustar e me olhar de uma maneira como se eu fosse o cara mais insano de todos.

― O que... ― A sua voz morreu assim que voltei a subir na cama. Estufei o peito, olhei para cima e coloquei as mãos na cintura, como o Super-Homem.

Sua risada preencheu o quarto no mesmo instante e me fez rir também. Era maravilhoso vê-la rindo.

― Por que você está com este lençol amarrado no pescoço como se fosse uma capa? ― Questionou rindo.

― Não é como se fosse uma capa, é uma capa de verdade. ― Respondi virando meu rosto para sua direção, mas ainda com aquela posição de Super-Homem. ― Eu decidi o que quero ser daqui a dois meses.

― E seria?

― O Super-Homem. ― Ela riu um pouco mais alto. ― Mas só serei o Super-Homem se você for minha Lois Lane.

Saltei da cama, segurando minha “capa” e me sentindo o maior idiota por aquilo. Ela riu de uma forma exagerada, mas verdadeiro e era aquele riso que me fazia sentir vivo. Por ela eu seria o Rei dos idiotas, apenas para vê-la feliz daquele modo.

― Você aceita ser a Lois Lane? ― Perguntei, a puxando pela cintura e colando nossos corpos.

― Eu preferia ser a Mulher-Gato e preferia ter você como o Batman, sabe... ― Ela disse daquela maneira dengosa dela, me fazendo sorrir.

― Não fode com a minha encenação, amor. Eu quero ser o Super-Homem, ele é muito melhor que o Batman, então você vai ter que ser minha Lois Lane.

Selei rapidamente seus lábios com os meus.

― Me desculpa, por ter sido estúpido com você, eu não sei o que eu quero do meu futuro e eu decidi que ter sua ajuda seria bom. ― Ela sorriu empolgada. ― Mas com moderação, sua gata.

― Ok, seu chato. Com moderação.

― Por enquanto eu tenho apenas uma única certeza do que eu quero para meu futuro.

― Ser o Super-Homem? ― Disse rindo. ― Mesmo o Batman sendo melhor?

― Shiu. O Batman nem poderes têm... Então o Super-Homem é melhor. Mas não é isso. ― Ela franziu o cenho, curiosa. ― Por enquanto a única coisa que eu quero para meu futuro é você.  Eu quero você para toda eternidade comigo.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Entre Estrelas



Uma singela fumaça esbranquiçada deslizou dos lábios dela, devido à noite extremamente fria que Londres tinha. Suas pequenas mãos pareciam que iam congelar a qualquer momento, igualmente seus pés. Ela sorriu ao vê-lo tirando o grosso casaco que vestia e dando-lhe de um modo meio sem jeito. “Obrigada”, sussurrou quase que silenciosamente, enquanto sua voz se perdia entre as buzinas e motores de uma rua movimentada.

― Para onde você quer ir? ― Questionou Richard, mirando à pequena. A mesma contemplava o céu acinzentado e perdia-se na própria imaginação, sem realmente prestar atenção no mais velho. ― Kaley. ― Chamou-a, finalmente obtendo a atenção da mesma. ― Para onde quer ir?

― Para as estrelas. ― Respondeu, singelamente. Um riso meio seco e enferrujado soou, fazendo outra risada doce soar no meio de toda imensidão cinzenta e barulhenta da cidade grande.

― Por enquanto eu não consigo te levar para lá, então escolha um local mais perto. ― Pediu carinhosamente. Recebendo um sorriso leve, quase que surreal.

As estrelas seriam um bom lugar para ir, pensou Richard, poderiam percorrer a imensidão negra do Universo e jamais voltarem para Inglaterra ou qualquer outro lugar da Terra. Viveriam eternamente entre as mais brilhantes e grandiosas estrelas, fazendo delas um local seguro e confortável. Como uma casa. Acordando dos próprios devaneios, o homem viu a adolescente correr pela calçada coberta de neve e entrar em um pequeno estabelecimento.

― Espere pequena Kaley.

Ao entrar no pequeno café, deparou-se com a garota, já sentada em um local afastado da porta, sem seu casaco e sem o cachecol preto que até então estava enrolado em seu pescoço. O mesmo foi até a mesa e sentou-se enfrente a menina, sorrindo e desviando o olhar rapidamente, ao ver uma garçonete chegando.

― O que vão querer?

― Um chocolate quente com chantilly. ― Pediu Kaley.

― E o senhor?

― Um café puro.

Ambos se miraram quando a garçonete saiu dali e sorriram. Cúmplices

― Você tem planos para hoje Richard? ― Perguntou. Sem malicia alguma, apenas curiosa. As mãos inquietas tomavam alguns saches de açúcar que havia sobre a mesa e as ordenavam lado a lado, sem realmente notar o que fazia. ― Eu queria andar de metrô, nunca andei, então você poderia me levar, não poderia? Se não tiver nenhum plano.

― Não acho uma boa ideia.

O silêncio se fez presente, devido aos pedidos chegarem e assim que a garçonete saiu, a garota de 19 anos fez uma cara triste e resolveu desviar sua mirada para o chantilly que havia sobre o chocolate quente em uma xícara.

― Por quê? ― A voz saiu rouca, quase que chorosa.

― Tenho 35 anos, não deveria nem estar aqui, tomando esse café com você. Sou mais velho e seu tutor de pesquisa.

― Mas eu não me importo.

― Mas o reitor da Universidade, seus pais e varias outras pessoas se importam.

O silêncio surgiu e permaneceu durante alguns minutos longos e tediosos, fazendo Richard tomar sua xícara de café inteira e Kaley conseguir acabar com o chantilly e quase com metade da xícara de chocolate. Richard repensou na sua resposta e deparou-se com a vontade de levá-la para algum lugar, algum lugar bonito e que a fizesse se sentir especial.

― Você quer ir paras estrelas? ― Perguntou Richard, interrompendo o silêncio, fazendo um sorriso sincero desenhar-se nos lábios da menina.

― Quero.

― Então vamos.

Richard deixou uma nota equivalente ao valor do que haviam pedido sobre a mesa e puxou a menina pelas mãos. O casaco e o cachecol foram levados pela mão livre da garota, enquanto saiam do pequeno café e iam em direção a uma escada que os levariam para o metrô.

Por ser noite, o vagão que pegaram estava praticamente vazio, os fazendo ter liberdade para sentar onde queriam. Kaley optou por brincar entre as barras de metais e ser um pouco criança ao se libertar dos problemas e deveres da Universidade, onde era do grupo de pesquisa de física. Richard acompanhava atentamente os movimentos infantis e alegres da garota, sorrido e esquecendo-se que era tutor de toda pesquisa de Kaley e do grupo da mesma.

― Nunca tinha andado de metrô. ― Revelou a garota, finalmente parando e ficando parada enfrente ao mesmo.

― Nunca? ― Espantou-se.

― Nunca. É a primeira vez.

― O que mais você nunca fez?

Kaley era uma garota da alta sociedade britânica, tendo motoristas e empregados a sua disposição. Estar ali, em um vagão de metrô, brincando, era algo quase que surreal e inimaginável até então para ela. Talvez sorte. Sorte de ter Richard para livrá-la de toda bolha que seus pais haviam feito ao redor dela.

― Nunca fui a parques. Esses ilegais, que tem pelos bairros pobres de Londres. ― Revelou, sentindo as bochechas vermelhas. 

― Não são ilegais, são apenas parques de pessoas normais. ― Comentou. ― Se prepara que na próxima estação vamos descer.

― E para onde vamos?

― Vamos ir para estrelas essa noite Kaley. 

Um sorriso dela surgiu. E apenas esse sorriso bastou para Richard perceber que não adiantava mais tentar fugir. Ela havia conseguido derrubar suas barreiras e o encantar com toda infantilidade que tinha.

Ao descerem do vagão, Kaley vergonhosamente pegou na mão de Richard e entrelaçou seus dedos, vendo-o hesitar por um momento, mas apertar seus dedos como se houvesse gostado daquele pequeno contato.

Estavam em um bairro do subúrbio e em um vasto terreno, havia um parque. Havia poucas crianças devido ao Inverno, mas as que estavam ali, corriam e gritavam alegremente. Kaley pareceu perdida e se encolheu no ombro de Richard ao levar um susto com um vendedor de algodão doce que passou gritando ao seu lado.

― Escolhe que brinquedo quer ir.

Montanha-Russa. Túnel do Amor. Brinquedos de pontaria, alvo, tiros. E por ultimo foram na Roda Gigante. Quando chegaram ao topo, Richard olhou para o céu cinzento e sorriu ao lembrar-se do pedido da menina. Ela queria as estrelas e ele também queria. Mas elas eram tão impossíveis de serem alcançadas, quase invisíveis no céu de Londres, quase que inexistente para os humanos. Os dedos enlaçados aos seus o fizeram perceber que não precisava ir para estrelas para se sentir longe de todos na Terra, bastava a ter ali por perto.

― Eu queria pular daqui e sair voando. ― Sussurrou para Richard, rindo.

― Eu também. ― Riu.

― Você é diferente quando estamos sozinhos, quando não estamos na Universidade.

Você me faz ser diferente quando estamos sozinhos.

Ambos permaneceram sorrindo, dentro de seus proprios pensamentos, enquanto a Roda Gigante se movimentava lentamente.

― Já estamos nas estrelas. ― Avisou Kaley em tom de brincadeira, olhando para ele e o vendo aumentar o sorriso. ― Obrigada por me trazer aqui.

― Sempre que quiser, vamos viajar pelas estrelas e conhecer novos planetas.

― Podemos voar?

― É só você querer pequena Kaley.


Nós. Ainda há de existir esse tal de “nós”? Ainda há de existir aquele casal que a todos encantavam e que com apenas um olhar se fortificavam de todo mal? Éramos felizes e entregues a nós mesmo, mas e agora?

Eu. Você. Nós. 
Lembra?

Antes estava sempre a me cercar por seu amor e sua felicidade estridente. E agora? Agora te vejo a quilômetros de distancia de mim, como se jamais estivesse tido presente, segurando minhas mãos. Em um tempo não muito distante era fácil chegar há ti e beijar-te tão suavemente, era simples sentir-me protegida e simplesmente fascinada por tudo. No presente momento te vejo sentado ao meu lado, quieto em nossos próprios escombros, esperando que algo ocorra. É como se todo amor arquitetado e construído por nossas mãos, tivessem sido mau projeto e desabado por falhas jamais identificadas.

Agora somos um casal apenas destruído pelos dias que se passaram e pela façanha do destino. Estamos deitados lado a lado, sem realmente estarmos presentes.

Eu. Você. 
Cadê?

Talvez ainda haja esperança para nós. Ainda haja aquela vontade de permanecer lado a lado, mesmo que seja quietado pelas nossas agonias. Esperança. Talvez em algum momento, voltemos a ser aquele casal de um passado quase que ainda presente e a felicidade destrua a melancolia que causa nossos medos e dores.

Nós.
Juntos.
Será?

sábado, 17 de novembro de 2012

Palavras


“— Você gosta delas?”
Perguntou-me o senhor.
E com palavras belas,
Mostrei-lhe todo meu amor.

Palavras, meu senhor, são a esperança
Pois com elas posso brincar,
Igual a uma criança.

Com elas escrevo
Uma estória sutil.
Com elas descrevo
Um sentimento infantil.

Com a escrita invento um cenário,
Semelhante a um santuário.
Meus personagens sãos exagerados,
Concebidos do imaginário.

Papel, caneta e imaginação,
Veja estimado senhor,
Tenho o mundo em minha mão.

Com as palavras posso escrever,
E assim viver algo inexistente.
Pois é mais que do querer,
É criar o incoerente.

Ele sorriu
“— Você ama a escrita, minha doce menina”
E uma lágrima surgiu.
Era dor e alegria,
Pois logo ele partiria.
Afinal o velho senhor,
Só fazia parte da minha estória de amor

quarta-feira, 4 de julho de 2012


Era daquele modo. Torto, estranho e preenchido de brincadeiras que eles apreenderam a conviver juntos. Era daquela maneira que ambos apreenderam há serem amigos e tornarem tudo um pouco mais divertido.
… E era daquele modo que ambos estavam se entregando pouco a pouco para uma paixão estranha e nova.


Príncipes existem!



― Príncipes encantados não existem. ― Murmurou alguém para ela.
― Eu acho que existem sim...

“Existiam. Na sua vida. No seu coração. E esse príncipe era só seu; somente seu. Não possuía olhos azuis e cabelo dourado, não... Ele tinha cabelo castanho e olhos igualmente castanhos, mas que eram belos e ultrapassavam a perfeição. Tinha face de garotinho novo, mas maturidade de garoto velho. Era pequeno, mas alto diante dela, sempre a protegendo com seus braços e deixando-a encantada com seus beijos na testa. Dizia não ser inteligente, porém aos olhos dela ele era mais que inteligente, bem mais que isso. Tinha gostos peculiares e não tão parecidos com de príncipes. Mas não era o gosto, aparência e afins que o faziam ser príncipe. Não! Jamais seria isso. O que o transformava em príncipe era o modo que ele fazia dela uma princesa. Sempre mimado-a e jamais a deixando olvidar-se de como ela era especial para ele. Sempre sendo educado e respeitando-a acima de tudo. Eram os pequenos gestos e atitudes que faziam dele um príncipe. O príncipe encantado dela. Somente dela”.

― Melhor dizendo. Eu tenho certeza que príncipes encantados existem. 

Ela precisava apenas de três coisas: uma xícara de café quente e levemente forte, um caderno para colocar seus sentimentos e a música de David Bowie para fazer o fundo de sua melancolia exagerada


Sean era diferente dos outros garotos de apenas nove anos. Seus olhos traziam uma complexidade envolvente, suave e doce. Incrivelmente doce. Era agradável fixar os olhos aos olhos dele e perder-se entre tanta doçura, entre tanto encanto. Era apenas um garotinho de grandes olhos amendoados, quase negros. Gostava de perder-se entre os desenhos rabiscados pelas próprias mãos, pelos dragões borrados de giz, pelos deuses gregos pintados de canetinha, pelos super-heróis contornados de lápis de cor. Amava deitar no jardim durante as manhãs de Primavera, entre as flores coloridas e o canto suave dos pássaros, podia ali ler e reler seus livros que continham a mitologia que tanto amava.

Sean desejava ser um deus (um semi-deus bastaria). Sean queria ser um herói (um quase-herói serviria). Sean queria ser grande, gigante, tudo. O tudo que o mundo lhe oferecia e que não oferecia. O tudo da fantasia, do faz-de-conta, do real.

Até o momento em que desejou ser apenas uma coisa, amigo de Sofia. A garota de cachos que voavam junto ao vento quando se equilibrava ao meio-fio da rua descalça. A garota que ele espionava durante as noites do seu quarto. Ela sempre fazia o ritual de olhar para as estrelas e ele preferia contemplar sua única estrela.

Sean não tinha amigos, pois era diferente. Os garotos de sua idade não gostavam de sua mania insuportável de falar da mitologia, dos deuses e dos dragões. Mas ele nunca se importou em fazer amizades, até o instante em que desejou profundamente ter a amizade da garota que raramente falava.

E em um dia de Inverno qualquer, onde as flores não mais estavam presentes, o pequeno garoto atravessou a rua. Caminhou pelo gramado da casa de Sofia com passos incertos e deixou ao chão, enfrente a porta, um desenho e uma barra de chocolate. Apertou a companhia e correu para sua casa, seu abrigo. A respiração sem uniformidade comum e o coração tão acelerado que até parecia que iria sair pela boca.

Pela primeira vez havia machado a folha branca com um desenho diferente, uma pequena garota de cachos sentada no jardim.

Sean queria ser amigo de Sofia. Queria apenas isso e nada mais. 


Sobre e-mails, natal e saudade.





Alex;

O Inverno aqui está muito rigoroso e pela primeira vez eu não me sinto confortável com todo esse frio... Digo o problema não é o frio e sim o fato de você não estar aqui para meu aquecer. Falta você, falta seu calor, falta seu corpo, falta sua presença. Eu nunca passei um Inverno tão triste como esse, por mais encantada que eu esteja com a neve e os enfeites natalino, eu sinto como se eu não estivesse no local certo. Falta algo sabe? Uma palavra carinhosa, um sussurro quando se vai dormir, os corpos colados no banho, à bagunça pra cozinhar. Falta isso e muito mais.

Aqui é incrível, o ar de cidade grande, a beleza que se tem ao anoitecer, a neve caindo durante a noite, o sol singelo no amanhecer gélido. Tudo é incrível, mas seria ainda mais incrível se você tivesse aqui, compartilhando dessa beleza comigo. Queria ter você aqui comigo para tomarmos café nas pequenas lanchonetes que são aconchegantes e servem-me como inspiração para meus contos. Não revire os olhos por não gostar de café, eu te conheço e sei que não gosta, mas servem chocolate quente com chantilly em cima. No momento em que vi, lembrei-me de você. Mas eu ainda prefiro meu bom café puro ou um quente cappuccino da Starbucks. Não ria por eu ter ido lá no primeiro dia que cheguei, você sabe que eu sempre tive vontade.

Ontem à noite resolvi jantar fora e encontrei um restaurante vegetariano ― ou como os americanos dizem: um restaurante vegan ― a duas quadras do meu apartamento. Eu entrei lá e sentei-me em um local na janela onde eu podia observar a neve caindo e os casais andando abraçados. Doeu tanto não ter sua mão contra a minha sobre a mesa enquanto conversaríamos de bobeira e riríamos de qualquer pessoa estranha demais. Eu pedi uma salada de beterraba, arroz e batatas fritas. Estava horrível. Sinto falta da comida da minha mãe e da sua mãe, sabia? Não ria de mim por eu ainda não dominar a grande arte de cozinhar. (É tão mais fácil ir a um restaurante ou pedir comida por telefone, aqui em New York é comum tal ato). Eu mal comi aqui e fui direto para uma lanchonete que cheirava a gordura e tinha gente feia, entrei lá e pedi um belo lanche com hambúrguer. Não brigue comigo, mas estava uma delicia apesar de eu sentir ausência do seu olhar de reprovação por estar comendo carne daquela maneira tão exagerada. Amor, eles fazem o lanche naquele lugar, tipo, tinha hambúrguer, tomate, maionese, queijo (muito queijo!), catchup (muito, mas muito mesmo!) e o pão. Foi engraçado pelo fato do senhor da lanchonete olhar para minha cara e perguntar como uma garota tão pequena conseguia comer um lanche enorme daquele. Eu apenas ri e fiquei com as bochechas vermelhas. Eu consegui não me sujar e usei quase todos os guardanapos do estabelecimento. Eu também tomei um copo enorme de coca-cola gelada e isso fez o senhor questionar se eu era americana, pois eu não tinha traços americanos e sim latinos, eu falei que era do Brasil e ele disse que era incrível ver uma garota brasileira devorando um lanche daquele tamanho e um copo cheio de coca. Eu só ri e depois fui para casa, pois estava muito frio. Senti ausência do seu corpo ao deitar e colocar um filme para assistir.

Adivinha que filme eu assisti? Amizade Colorida. (Não revire os olhos dessa forma seu besta, eu sou apaixonada por esse filme). Lembrei tanto da gente, o modo que nos damos bem quando se amamos e como se entregamos para aquele momento. Senti falta de quando andávamos de roupas intimas pela casa e brincávamos de provocar um ao outro. Quando o filme acabou resolvi tomar banho e senti novamente falta do seu corpo. Nossos banhos eram maravilhosos, você gostava tanto de ficar abraçado comigo enquanto a água caia por nossos corpos.

Você faz tanta falta.

Como estão as coisas em São Paulo? Como está minha família e sua família? Sua irmã me mandou uma mensagem no facebook dizendo que você está ocupado demais com a faculdade. Não queria que fosse tão difícil para você assim, você está sobrecarregado demais. Já é dia 20, cinco dias para o natal e você dentro da biblioteca da faculdade estudando. Aproveita pelo menos essa data especial com sua família. Isso me lembra de que é o nosso primeiro natal longe um do outro. Vou enviar seu presente hoje mesmo por Fedex, comprei algo que você vai amar e não é uma camiseta escrita I (Love) NY. Não ria de mim por ter praticamente toda coleção de lembranças dessa cidade.

Minha companheira de apartamento foi para Boston visitar os familiares e só voltará depois do ano novo e adivinhe... I’m alone here! I love this. (Ironia). Eu tenho escrito mais do que o comum por me encontrar sozinha nesse apartamento e tenho bebido mais café do que o comum também. Não faça cara reprovação (eu sei que está fazendo), é só uma mania de beber café pra me manter acordada para escrever ou ficar vendo fotos de quando éramos adolescentes e nos aventurávamos pelo novo.

Lembra quando você matava aula só para vir aqui em casa e planejávamos tudo, até rota de fuga? O medo era grande, entretanto o anseio de se ter, se amar, experimentar era tanto que o mundo acabava sendo esquecido para nós.

Voltando a lembrar do natal, queria te falar que eu odeio ter que ficar longe de você no natal, tipo, é uma época que ambos adoramos ficar juntinhos, mas que esse ano nós vamos estar distante um do outro. Os enfeites natalinos são perfeitos e o clima que fica em todos os lugares também. Os americanos são incrivelmente encantados pelo natal, talvez mais do que nós dois. Acredita? Mentira! Não existem pessoas mais encantadas com o Natal do que nós dois. Você se lembra de quando tínhamos 19 anos e fugimos para o parque que tem atrás da sua rua, bebemos uma garrafa de dois litros de refrigerante e ficamos vendo os fogos de artifício. (Só não gosto de lembrar que encontramos uma de suas amigas e eu tive que a mandar tomar no cú, não ria de mim assim, ela me tirou do sério dando encima de você descaradamente).

Queria que estivesse aqui para fugirmos para o telhado do condomínio e tomar refrigerante enquanto assistimos a neve cair e esperamos o Papai Noel chegar. (Não ria novamente, vou bater-lhe por ficar rindo dessa maneira de mim).

Vou ficando por aqui. Espero que me responda antes do Natal, apesar de achar isso impossível.

Beijos.
Te amo mais do que tudo.

Assinado: Spencer.

P.S.: Fale pra sua mãe que a comida dela me faz falta e avise sua irmã que o presente dela é uma blusa da GAP, já que ela adora tanto a marca (ela vai odiar antes mesmo de abrir).


Spencer;

Tem sido difícil sem você aqui. Difícil seria um adjetivo fraco, comparada a sua ausência. Está sendo impossível. Como uma ferida aberta que não se cicatriza por nada (li isso em um dos seus livros e cabe perfeitamente para o que estou sentindo).

Eu não sei ao certo dizer como está o clima aqui, algumas vezes parece quente demais outra parece frio, igual quando nos conhecemos. Lembra uma manhã que te emprestei minha blusa? Eu não queria falar, mas eu estava morrendo de frio. No fim valeu a pena, você ficou tão linda naquela blusa maior do que você, eu olhava pra você e queria te parar ali mesmo, na rua e te beijar, queria dizer o quanto estava linda naquela minha blusa. O melhor foi quando me devolveu e seu perfume estava fixo nela. Acredite uma das melhores coisas é quando seu perfume fica em minhas roupas, em meu corpo. Eu sinto tanta saudade de sentir seu perfume, meu amor, mas tanta saudade que me dói até.

Fico imaginando você ai, andando pela neve, com grandes casacos, botas e cachecol. Você deve ficar tão linda com a neve ao seu redor. Queria tanto poder estar ai ao seu lado, observando você correr pelo central park ao amanhecer e ver você voltando do jantar enquanto neva e seu cabelo fica úmido daquela forma que eu amo.

E não exagere no café meu amor, deve estar bebendo dois litros por dia sem eu para te dar bronca. Aqui vai minha bronca: Não fique tomando tanto café se não você não vai conseguir dormir. (E eu não quero você acordada durante a madrugada fria, olhando pela janela e pensando em nada e tudo ao mesmo tempo; eu consigo ver a cena na minha mente, você sentada enfrente a janela e com uma xícara de café nas mãos).

Você deve ter entrado no restaurante vegan só para se lembrar de como é comer salada, fiquei rindo por um tempo ao imaginar você entrando vergonhosamente no restaurante por saber que não era vegetariana e saindo de lá deixando quase o prato inteiro. Outra coisa que eu fiquei imaginando foi você na lanchonete simples, fiquei pensando no modo que estava vestida e como deve ter sido linda ao comer um lanche enorme que nem homem. Sinto saudade disso, de ver você comendo aqueles lanches doidos que você inventava e se sujava toda. Tanta falta faz isso no nosso apartamento, tenho ficado nele sozinho, olhando para os lugares que você costumava ficar e isso me deixou tão deprimido. Além é claro de ficar estudando igual um condenado até o dia em que recebi sua carta.

Eu parei de estudar, guardei meu material e fui assistir Amizade Colorida. Eu ri por ver que você deixou o seu DVD sobre minha escrivaninha no escritório, como se soubesse que eu ia buscar para assistir. Eu ri demais, lembrei também de nós e fiquei irritado por não te ter aqui, queria olhar pra você e mandar você parar de olhar encantada para o filme. Fiquei com saudade de te irritar. Fiquei com falta de quando fazíamos igual Jamie e Dylan no filme, se amávamos e éramos melhores amigos acima de tudo.

Faz um mês que você está fora, um mês que seu corpo tem feito falta ao adormecer, ao tomar banho, ao ir para o trabalho. Sei que fui duro contigo quando a editora resolveu te mandar para New York, sei que é seu trabalho e que somente mais dois meses e você está de volta, mas é que... É tão difícil ficar longe de você. Me sinto como se faltasse parte de mim. Eu olho pro seu lado da cama e meu peito dói. Eu chego em casa e não tem você ali, me esperando para tomar sorvete enquanto você escreve e eu estudo. Ai minha pequena, eu não sou de chorar, mas sua ausência tem feito essas malditas gotas salgadas caírem dos meus olhos.

Você comentou de nossas aventuras, de quando eu ia escondido para sua casa, de quando eu simplesmente virava a noite conversando com você por internet, quando você matava aula e ia para minha sala. Eu me lembro de tudo isso, como eu poderia esquecer? Como eu poderia simplesmente não lembrar os melhores momentos da minha vida?

Como assim você me mandou uma guitarra? Deve ter saído tão caro pra enviar, ainda mais com o selo: Urgente! Meu Deus, você é louca? Sim, você é completamente insana e por isso eu te amo tanto. Mas não me mate dessa maneira. Assim como não mate minha irmã dando-lhe um kit completo da Apple e simplesmente dizendo que era um moletom da GAP. Você realmente é insana garota.

Hoje é dia 24 e é madrugada, pois sei que você deixou para ler esse email somente agora, faltando 10 minutos para o Natal. Eu te conheço pequena, conheço até demais.

Fico por aqui.

Beijos.
Te amo como jamais outra pessoa.

Assinado: Alex.

P.S.: Vá até o telhado agora, GO girl.


Ao finalmente chegar ao telhado do condomínio, Spencer sorriu. Um sorriso puro, que expressava de uma forma linda a emoção que sentia. O coração pulsava forte e a sensação de borboletas no estômago parecia fazê-la voltar ao momento em que conheceu Alex. O sorriso apenas aumentou quando o namorado tirou da mochila jogada ao chão uma garrafa grande de Coca-Cola e dois copos plásticos.

― Você é louco. ― Murmurou a garota, andando em direção a ele.

― Por você eu sou. ― Respondeu rindo e também caminhando em direção a ela. ― Vim lhe desejar Feliz Natal!

FIM




terça-feira, 3 de julho de 2012

Medo de Amar



Ela tinha medo. Não sabia o motivo de tal medo, mas sentia-se intimamente apavorada com aquele turbilhão de sentimentos que sentia ao simplesmente vê-lo. Era como se não tivesse controle de seu próprio corpo, era como se não tivesse domínio de si e aquilo apavorava cada vez mais. E cada dia aquilo apenas aumentava. O oxigênio faltando em seus pulmões involuntariamente, o coração pulsando de uma forma quase irreal de tão forte e intenso, os olhares perdidos para ele, ele sempre invadindo seus sonhos. Aquilo cada dia mais parecia pior e ela estava começando a se irritar... Por que quando o assunto era ele, ela não conseguia ter um pouco de domínio? Por qual motivo aquilo ocorria sempre que o notava? E por qual maldito motivo ela tinha tanto medo de sentir o que sentia?

sábado, 5 de maio de 2012

Ao fim do dia sou apenas mais uma maquiagem borrada, mais um olhar perdido, uma palavra solta na imensidão do mundo; Ao fim do dia sou apenas mais um cabelo desgrenhado, mais uma esperança destruída, mais um sonho desenvolvido, mais um sentimento confundido; Ao fim do dia sou mais um garoto brincalhão, mais uma garota iludida, mais uma alma preenchida de esperança… Ao fim do dia eu sou apenas mais alguém no transito, mirando o céu negro e ouvindo uma melodia qualquer.
Seus olhos deixavam-me levemente desnorteada, com o estomago vacilante e o ambiente girando fortemente a minha volta. Aquele olhar singular e que era a entrada para o Céu ― e às vezes para o Inferno. Aquele olhar que era tão hipnótico, tão quente… Tão particularmente meu.


Ao som de Eric Clapton eles dançavam. Sem ritmo, sem sincronia, sem talento, entretanto com amor, paixão e carinho. Tão entregues aquele ato simplório e merecedor da eternidade, que ambos esqueceram-se por um instante dos problemas do mundo externo. 


― Você é a única garota de 17 anos que escuta David Bowie.
― E você é o único homem de 31 anos que gosta de ficar com garotas de 17 anos. 
― Eu não gosto de ficar com garotas de 17 anos. Não sou pervertido.

(Silêncio)

― Eu gosto de ficar com uma única garota de 17 anos… E essa garota gosta de David Bowie.
― E Van Halen também. ― Sorriu pela primeira vez no dia.

Era apenas um pequeno romance terrível. Ele bem sabia disso… Ele era errado demais para ela. Errado demais para qualquer ser presente na face da terra. Tão pecaminoso, tão obscuro, tão sujo. 

― Querido, eu preciso de mais café.
― E eu preciso de mais amor.

(Gabriela Germano)