quarta-feira, 4 de julho de 2012


Era daquele modo. Torto, estranho e preenchido de brincadeiras que eles apreenderam a conviver juntos. Era daquela maneira que ambos apreenderam há serem amigos e tornarem tudo um pouco mais divertido.
… E era daquele modo que ambos estavam se entregando pouco a pouco para uma paixão estranha e nova.


Príncipes existem!



― Príncipes encantados não existem. ― Murmurou alguém para ela.
― Eu acho que existem sim...

“Existiam. Na sua vida. No seu coração. E esse príncipe era só seu; somente seu. Não possuía olhos azuis e cabelo dourado, não... Ele tinha cabelo castanho e olhos igualmente castanhos, mas que eram belos e ultrapassavam a perfeição. Tinha face de garotinho novo, mas maturidade de garoto velho. Era pequeno, mas alto diante dela, sempre a protegendo com seus braços e deixando-a encantada com seus beijos na testa. Dizia não ser inteligente, porém aos olhos dela ele era mais que inteligente, bem mais que isso. Tinha gostos peculiares e não tão parecidos com de príncipes. Mas não era o gosto, aparência e afins que o faziam ser príncipe. Não! Jamais seria isso. O que o transformava em príncipe era o modo que ele fazia dela uma princesa. Sempre mimado-a e jamais a deixando olvidar-se de como ela era especial para ele. Sempre sendo educado e respeitando-a acima de tudo. Eram os pequenos gestos e atitudes que faziam dele um príncipe. O príncipe encantado dela. Somente dela”.

― Melhor dizendo. Eu tenho certeza que príncipes encantados existem. 

Ela precisava apenas de três coisas: uma xícara de café quente e levemente forte, um caderno para colocar seus sentimentos e a música de David Bowie para fazer o fundo de sua melancolia exagerada


Sean era diferente dos outros garotos de apenas nove anos. Seus olhos traziam uma complexidade envolvente, suave e doce. Incrivelmente doce. Era agradável fixar os olhos aos olhos dele e perder-se entre tanta doçura, entre tanto encanto. Era apenas um garotinho de grandes olhos amendoados, quase negros. Gostava de perder-se entre os desenhos rabiscados pelas próprias mãos, pelos dragões borrados de giz, pelos deuses gregos pintados de canetinha, pelos super-heróis contornados de lápis de cor. Amava deitar no jardim durante as manhãs de Primavera, entre as flores coloridas e o canto suave dos pássaros, podia ali ler e reler seus livros que continham a mitologia que tanto amava.

Sean desejava ser um deus (um semi-deus bastaria). Sean queria ser um herói (um quase-herói serviria). Sean queria ser grande, gigante, tudo. O tudo que o mundo lhe oferecia e que não oferecia. O tudo da fantasia, do faz-de-conta, do real.

Até o momento em que desejou ser apenas uma coisa, amigo de Sofia. A garota de cachos que voavam junto ao vento quando se equilibrava ao meio-fio da rua descalça. A garota que ele espionava durante as noites do seu quarto. Ela sempre fazia o ritual de olhar para as estrelas e ele preferia contemplar sua única estrela.

Sean não tinha amigos, pois era diferente. Os garotos de sua idade não gostavam de sua mania insuportável de falar da mitologia, dos deuses e dos dragões. Mas ele nunca se importou em fazer amizades, até o instante em que desejou profundamente ter a amizade da garota que raramente falava.

E em um dia de Inverno qualquer, onde as flores não mais estavam presentes, o pequeno garoto atravessou a rua. Caminhou pelo gramado da casa de Sofia com passos incertos e deixou ao chão, enfrente a porta, um desenho e uma barra de chocolate. Apertou a companhia e correu para sua casa, seu abrigo. A respiração sem uniformidade comum e o coração tão acelerado que até parecia que iria sair pela boca.

Pela primeira vez havia machado a folha branca com um desenho diferente, uma pequena garota de cachos sentada no jardim.

Sean queria ser amigo de Sofia. Queria apenas isso e nada mais. 


Sobre e-mails, natal e saudade.





Alex;

O Inverno aqui está muito rigoroso e pela primeira vez eu não me sinto confortável com todo esse frio... Digo o problema não é o frio e sim o fato de você não estar aqui para meu aquecer. Falta você, falta seu calor, falta seu corpo, falta sua presença. Eu nunca passei um Inverno tão triste como esse, por mais encantada que eu esteja com a neve e os enfeites natalino, eu sinto como se eu não estivesse no local certo. Falta algo sabe? Uma palavra carinhosa, um sussurro quando se vai dormir, os corpos colados no banho, à bagunça pra cozinhar. Falta isso e muito mais.

Aqui é incrível, o ar de cidade grande, a beleza que se tem ao anoitecer, a neve caindo durante a noite, o sol singelo no amanhecer gélido. Tudo é incrível, mas seria ainda mais incrível se você tivesse aqui, compartilhando dessa beleza comigo. Queria ter você aqui comigo para tomarmos café nas pequenas lanchonetes que são aconchegantes e servem-me como inspiração para meus contos. Não revire os olhos por não gostar de café, eu te conheço e sei que não gosta, mas servem chocolate quente com chantilly em cima. No momento em que vi, lembrei-me de você. Mas eu ainda prefiro meu bom café puro ou um quente cappuccino da Starbucks. Não ria por eu ter ido lá no primeiro dia que cheguei, você sabe que eu sempre tive vontade.

Ontem à noite resolvi jantar fora e encontrei um restaurante vegetariano ― ou como os americanos dizem: um restaurante vegan ― a duas quadras do meu apartamento. Eu entrei lá e sentei-me em um local na janela onde eu podia observar a neve caindo e os casais andando abraçados. Doeu tanto não ter sua mão contra a minha sobre a mesa enquanto conversaríamos de bobeira e riríamos de qualquer pessoa estranha demais. Eu pedi uma salada de beterraba, arroz e batatas fritas. Estava horrível. Sinto falta da comida da minha mãe e da sua mãe, sabia? Não ria de mim por eu ainda não dominar a grande arte de cozinhar. (É tão mais fácil ir a um restaurante ou pedir comida por telefone, aqui em New York é comum tal ato). Eu mal comi aqui e fui direto para uma lanchonete que cheirava a gordura e tinha gente feia, entrei lá e pedi um belo lanche com hambúrguer. Não brigue comigo, mas estava uma delicia apesar de eu sentir ausência do seu olhar de reprovação por estar comendo carne daquela maneira tão exagerada. Amor, eles fazem o lanche naquele lugar, tipo, tinha hambúrguer, tomate, maionese, queijo (muito queijo!), catchup (muito, mas muito mesmo!) e o pão. Foi engraçado pelo fato do senhor da lanchonete olhar para minha cara e perguntar como uma garota tão pequena conseguia comer um lanche enorme daquele. Eu apenas ri e fiquei com as bochechas vermelhas. Eu consegui não me sujar e usei quase todos os guardanapos do estabelecimento. Eu também tomei um copo enorme de coca-cola gelada e isso fez o senhor questionar se eu era americana, pois eu não tinha traços americanos e sim latinos, eu falei que era do Brasil e ele disse que era incrível ver uma garota brasileira devorando um lanche daquele tamanho e um copo cheio de coca. Eu só ri e depois fui para casa, pois estava muito frio. Senti ausência do seu corpo ao deitar e colocar um filme para assistir.

Adivinha que filme eu assisti? Amizade Colorida. (Não revire os olhos dessa forma seu besta, eu sou apaixonada por esse filme). Lembrei tanto da gente, o modo que nos damos bem quando se amamos e como se entregamos para aquele momento. Senti falta de quando andávamos de roupas intimas pela casa e brincávamos de provocar um ao outro. Quando o filme acabou resolvi tomar banho e senti novamente falta do seu corpo. Nossos banhos eram maravilhosos, você gostava tanto de ficar abraçado comigo enquanto a água caia por nossos corpos.

Você faz tanta falta.

Como estão as coisas em São Paulo? Como está minha família e sua família? Sua irmã me mandou uma mensagem no facebook dizendo que você está ocupado demais com a faculdade. Não queria que fosse tão difícil para você assim, você está sobrecarregado demais. Já é dia 20, cinco dias para o natal e você dentro da biblioteca da faculdade estudando. Aproveita pelo menos essa data especial com sua família. Isso me lembra de que é o nosso primeiro natal longe um do outro. Vou enviar seu presente hoje mesmo por Fedex, comprei algo que você vai amar e não é uma camiseta escrita I (Love) NY. Não ria de mim por ter praticamente toda coleção de lembranças dessa cidade.

Minha companheira de apartamento foi para Boston visitar os familiares e só voltará depois do ano novo e adivinhe... I’m alone here! I love this. (Ironia). Eu tenho escrito mais do que o comum por me encontrar sozinha nesse apartamento e tenho bebido mais café do que o comum também. Não faça cara reprovação (eu sei que está fazendo), é só uma mania de beber café pra me manter acordada para escrever ou ficar vendo fotos de quando éramos adolescentes e nos aventurávamos pelo novo.

Lembra quando você matava aula só para vir aqui em casa e planejávamos tudo, até rota de fuga? O medo era grande, entretanto o anseio de se ter, se amar, experimentar era tanto que o mundo acabava sendo esquecido para nós.

Voltando a lembrar do natal, queria te falar que eu odeio ter que ficar longe de você no natal, tipo, é uma época que ambos adoramos ficar juntinhos, mas que esse ano nós vamos estar distante um do outro. Os enfeites natalinos são perfeitos e o clima que fica em todos os lugares também. Os americanos são incrivelmente encantados pelo natal, talvez mais do que nós dois. Acredita? Mentira! Não existem pessoas mais encantadas com o Natal do que nós dois. Você se lembra de quando tínhamos 19 anos e fugimos para o parque que tem atrás da sua rua, bebemos uma garrafa de dois litros de refrigerante e ficamos vendo os fogos de artifício. (Só não gosto de lembrar que encontramos uma de suas amigas e eu tive que a mandar tomar no cú, não ria de mim assim, ela me tirou do sério dando encima de você descaradamente).

Queria que estivesse aqui para fugirmos para o telhado do condomínio e tomar refrigerante enquanto assistimos a neve cair e esperamos o Papai Noel chegar. (Não ria novamente, vou bater-lhe por ficar rindo dessa maneira de mim).

Vou ficando por aqui. Espero que me responda antes do Natal, apesar de achar isso impossível.

Beijos.
Te amo mais do que tudo.

Assinado: Spencer.

P.S.: Fale pra sua mãe que a comida dela me faz falta e avise sua irmã que o presente dela é uma blusa da GAP, já que ela adora tanto a marca (ela vai odiar antes mesmo de abrir).


Spencer;

Tem sido difícil sem você aqui. Difícil seria um adjetivo fraco, comparada a sua ausência. Está sendo impossível. Como uma ferida aberta que não se cicatriza por nada (li isso em um dos seus livros e cabe perfeitamente para o que estou sentindo).

Eu não sei ao certo dizer como está o clima aqui, algumas vezes parece quente demais outra parece frio, igual quando nos conhecemos. Lembra uma manhã que te emprestei minha blusa? Eu não queria falar, mas eu estava morrendo de frio. No fim valeu a pena, você ficou tão linda naquela blusa maior do que você, eu olhava pra você e queria te parar ali mesmo, na rua e te beijar, queria dizer o quanto estava linda naquela minha blusa. O melhor foi quando me devolveu e seu perfume estava fixo nela. Acredite uma das melhores coisas é quando seu perfume fica em minhas roupas, em meu corpo. Eu sinto tanta saudade de sentir seu perfume, meu amor, mas tanta saudade que me dói até.

Fico imaginando você ai, andando pela neve, com grandes casacos, botas e cachecol. Você deve ficar tão linda com a neve ao seu redor. Queria tanto poder estar ai ao seu lado, observando você correr pelo central park ao amanhecer e ver você voltando do jantar enquanto neva e seu cabelo fica úmido daquela forma que eu amo.

E não exagere no café meu amor, deve estar bebendo dois litros por dia sem eu para te dar bronca. Aqui vai minha bronca: Não fique tomando tanto café se não você não vai conseguir dormir. (E eu não quero você acordada durante a madrugada fria, olhando pela janela e pensando em nada e tudo ao mesmo tempo; eu consigo ver a cena na minha mente, você sentada enfrente a janela e com uma xícara de café nas mãos).

Você deve ter entrado no restaurante vegan só para se lembrar de como é comer salada, fiquei rindo por um tempo ao imaginar você entrando vergonhosamente no restaurante por saber que não era vegetariana e saindo de lá deixando quase o prato inteiro. Outra coisa que eu fiquei imaginando foi você na lanchonete simples, fiquei pensando no modo que estava vestida e como deve ter sido linda ao comer um lanche enorme que nem homem. Sinto saudade disso, de ver você comendo aqueles lanches doidos que você inventava e se sujava toda. Tanta falta faz isso no nosso apartamento, tenho ficado nele sozinho, olhando para os lugares que você costumava ficar e isso me deixou tão deprimido. Além é claro de ficar estudando igual um condenado até o dia em que recebi sua carta.

Eu parei de estudar, guardei meu material e fui assistir Amizade Colorida. Eu ri por ver que você deixou o seu DVD sobre minha escrivaninha no escritório, como se soubesse que eu ia buscar para assistir. Eu ri demais, lembrei também de nós e fiquei irritado por não te ter aqui, queria olhar pra você e mandar você parar de olhar encantada para o filme. Fiquei com saudade de te irritar. Fiquei com falta de quando fazíamos igual Jamie e Dylan no filme, se amávamos e éramos melhores amigos acima de tudo.

Faz um mês que você está fora, um mês que seu corpo tem feito falta ao adormecer, ao tomar banho, ao ir para o trabalho. Sei que fui duro contigo quando a editora resolveu te mandar para New York, sei que é seu trabalho e que somente mais dois meses e você está de volta, mas é que... É tão difícil ficar longe de você. Me sinto como se faltasse parte de mim. Eu olho pro seu lado da cama e meu peito dói. Eu chego em casa e não tem você ali, me esperando para tomar sorvete enquanto você escreve e eu estudo. Ai minha pequena, eu não sou de chorar, mas sua ausência tem feito essas malditas gotas salgadas caírem dos meus olhos.

Você comentou de nossas aventuras, de quando eu ia escondido para sua casa, de quando eu simplesmente virava a noite conversando com você por internet, quando você matava aula e ia para minha sala. Eu me lembro de tudo isso, como eu poderia esquecer? Como eu poderia simplesmente não lembrar os melhores momentos da minha vida?

Como assim você me mandou uma guitarra? Deve ter saído tão caro pra enviar, ainda mais com o selo: Urgente! Meu Deus, você é louca? Sim, você é completamente insana e por isso eu te amo tanto. Mas não me mate dessa maneira. Assim como não mate minha irmã dando-lhe um kit completo da Apple e simplesmente dizendo que era um moletom da GAP. Você realmente é insana garota.

Hoje é dia 24 e é madrugada, pois sei que você deixou para ler esse email somente agora, faltando 10 minutos para o Natal. Eu te conheço pequena, conheço até demais.

Fico por aqui.

Beijos.
Te amo como jamais outra pessoa.

Assinado: Alex.

P.S.: Vá até o telhado agora, GO girl.


Ao finalmente chegar ao telhado do condomínio, Spencer sorriu. Um sorriso puro, que expressava de uma forma linda a emoção que sentia. O coração pulsava forte e a sensação de borboletas no estômago parecia fazê-la voltar ao momento em que conheceu Alex. O sorriso apenas aumentou quando o namorado tirou da mochila jogada ao chão uma garrafa grande de Coca-Cola e dois copos plásticos.

― Você é louco. ― Murmurou a garota, andando em direção a ele.

― Por você eu sou. ― Respondeu rindo e também caminhando em direção a ela. ― Vim lhe desejar Feliz Natal!

FIM




terça-feira, 3 de julho de 2012

Medo de Amar



Ela tinha medo. Não sabia o motivo de tal medo, mas sentia-se intimamente apavorada com aquele turbilhão de sentimentos que sentia ao simplesmente vê-lo. Era como se não tivesse controle de seu próprio corpo, era como se não tivesse domínio de si e aquilo apavorava cada vez mais. E cada dia aquilo apenas aumentava. O oxigênio faltando em seus pulmões involuntariamente, o coração pulsando de uma forma quase irreal de tão forte e intenso, os olhares perdidos para ele, ele sempre invadindo seus sonhos. Aquilo cada dia mais parecia pior e ela estava começando a se irritar... Por que quando o assunto era ele, ela não conseguia ter um pouco de domínio? Por qual motivo aquilo ocorria sempre que o notava? E por qual maldito motivo ela tinha tanto medo de sentir o que sentia?