Alex;
O Inverno aqui
está muito rigoroso e pela primeira vez eu não me sinto confortável com todo
esse frio... Digo o problema não é o frio e sim o fato de você não estar aqui
para meu aquecer. Falta você, falta seu calor, falta seu corpo, falta sua
presença. Eu nunca passei um Inverno tão triste como esse, por mais encantada
que eu esteja com a neve e os enfeites natalino, eu sinto como se eu não
estivesse no local certo. Falta algo sabe? Uma palavra carinhosa, um sussurro
quando se vai dormir, os corpos colados no banho, à bagunça pra cozinhar. Falta
isso e muito mais.
Aqui é incrível,
o ar de cidade grande, a beleza que se tem ao anoitecer, a neve caindo durante
a noite, o sol singelo no amanhecer gélido. Tudo é incrível, mas seria ainda
mais incrível se você tivesse aqui, compartilhando dessa beleza comigo. Queria
ter você aqui comigo para tomarmos café nas pequenas lanchonetes que são
aconchegantes e servem-me como inspiração para meus contos. Não revire os olhos
por não gostar de café, eu te conheço e sei que não gosta, mas servem chocolate
quente com chantilly em cima. No momento em que vi, lembrei-me de você. Mas eu
ainda prefiro meu bom café puro ou um quente cappuccino da Starbucks. Não ria
por eu ter ido lá no primeiro dia que cheguei, você sabe que eu sempre tive
vontade.
Ontem à noite
resolvi jantar fora e encontrei um restaurante vegetariano ― ou como os americanos
dizem: um restaurante vegan ― a duas
quadras do meu apartamento. Eu entrei lá e sentei-me em um local na janela onde
eu podia observar a neve caindo e os casais andando abraçados. Doeu tanto não
ter sua mão contra a minha sobre a mesa enquanto conversaríamos de bobeira e
riríamos de qualquer pessoa estranha demais. Eu pedi uma salada de beterraba,
arroz e batatas fritas. Estava horrível. Sinto falta da comida da minha mãe e
da sua mãe, sabia? Não ria de mim por eu ainda não dominar a grande arte de
cozinhar. (É tão mais fácil ir a um restaurante ou pedir comida por telefone,
aqui em New York é comum tal ato). Eu mal comi aqui e fui direto para uma
lanchonete que cheirava a gordura e tinha gente feia, entrei lá e pedi um belo
lanche com hambúrguer. Não brigue comigo, mas estava uma delicia apesar de eu
sentir ausência do seu olhar de reprovação por estar comendo carne daquela
maneira tão exagerada. Amor, eles fazem o
lanche naquele lugar, tipo, tinha hambúrguer, tomate, maionese, queijo (muito
queijo!), catchup (muito, mas muito mesmo!) e o pão. Foi engraçado pelo fato do
senhor da lanchonete olhar para minha cara e perguntar como uma garota tão
pequena conseguia comer um lanche enorme daquele. Eu apenas ri e fiquei com as
bochechas vermelhas. Eu consegui não me sujar e usei quase todos os guardanapos
do estabelecimento. Eu também tomei um copo enorme de coca-cola gelada e isso
fez o senhor questionar se eu era americana, pois eu não tinha traços
americanos e sim latinos, eu falei que era do Brasil e ele disse que era
incrível ver uma garota brasileira devorando um lanche daquele tamanho e um
copo cheio de coca. Eu só ri e depois fui para casa, pois estava muito frio.
Senti ausência do seu corpo ao deitar e colocar um filme para assistir.
Adivinha que
filme eu assisti? Amizade Colorida. (Não revire os olhos dessa forma seu besta,
eu sou apaixonada por esse filme). Lembrei tanto da gente, o modo que nos damos
bem quando se amamos e como se entregamos para aquele momento. Senti falta de
quando andávamos de roupas intimas pela casa e brincávamos de provocar um ao
outro. Quando o filme acabou resolvi tomar banho e senti novamente falta do seu
corpo. Nossos banhos eram maravilhosos, você gostava tanto de ficar abraçado
comigo enquanto a água caia por nossos corpos.
Você faz tanta
falta.
Como estão as
coisas em São Paulo? Como está minha família e sua família? Sua irmã me mandou
uma mensagem no facebook dizendo que você está ocupado demais com a faculdade.
Não queria que fosse tão difícil para você assim, você está sobrecarregado
demais. Já é dia 20, cinco dias para o natal e você dentro da biblioteca da
faculdade estudando. Aproveita pelo menos essa data especial com sua família. Isso
me lembra de que é o nosso primeiro natal longe um do outro. Vou enviar seu
presente hoje mesmo por Fedex, comprei algo que você vai amar e não é uma
camiseta escrita I (Love) NY. Não ria de mim por ter praticamente toda coleção
de lembranças dessa cidade.
Minha companheira
de apartamento foi para Boston visitar os familiares e só voltará depois do ano
novo e adivinhe... I’m alone here! I love this. (Ironia). Eu tenho escrito mais
do que o comum por me encontrar sozinha nesse apartamento e tenho bebido mais
café do que o comum também. Não faça cara reprovação (eu sei que está fazendo),
é só uma mania de beber café pra me manter acordada para escrever ou ficar
vendo fotos de quando éramos adolescentes e nos aventurávamos pelo novo.
Lembra quando
você matava aula só para vir aqui em casa e planejávamos tudo, até rota de
fuga? O medo era grande, entretanto o anseio de se ter, se amar, experimentar era
tanto que o mundo acabava sendo esquecido para nós.
Voltando a
lembrar do natal, queria te falar que eu odeio ter que ficar longe de você no
natal, tipo, é uma época que ambos adoramos ficar juntinhos, mas que esse ano nós
vamos estar distante um do outro. Os enfeites natalinos são perfeitos e o clima
que fica em todos os lugares também. Os americanos são incrivelmente encantados
pelo natal, talvez mais do que nós dois. Acredita? Mentira! Não existem pessoas
mais encantadas com o Natal do que nós dois. Você se lembra de quando tínhamos
19 anos e fugimos para o parque que tem atrás da sua rua, bebemos uma garrafa
de dois litros de refrigerante e ficamos vendo os fogos de artifício. (Só não
gosto de lembrar que encontramos uma de suas amigas e eu tive que a mandar
tomar no cú, não ria de mim assim, ela me tirou do sério dando encima de você
descaradamente).
Queria que
estivesse aqui para fugirmos para o telhado do condomínio e tomar refrigerante
enquanto assistimos a neve cair e esperamos o Papai Noel chegar. (Não ria
novamente, vou bater-lhe por ficar rindo dessa maneira de mim).
Vou
ficando por aqui. Espero que me responda antes do Natal, apesar de achar isso
impossível.
Beijos.
Te
amo mais do que tudo.
Assinado:
Spencer.
P.S.:
Fale pra sua mãe que a comida dela me faz falta e avise sua irmã que o presente
dela é uma blusa da GAP, já que ela adora tanto a marca (ela vai odiar antes
mesmo de abrir).
Spencer;
Tem
sido difícil sem você aqui. Difícil seria um adjetivo fraco, comparada a sua
ausência. Está sendo impossível. Como uma ferida aberta que não se cicatriza
por nada (li isso em um dos seus livros e cabe perfeitamente para o que estou
sentindo).
Eu
não sei ao certo dizer como está o clima aqui, algumas vezes parece quente
demais outra parece frio, igual quando nos conhecemos. Lembra uma manhã que te
emprestei minha blusa? Eu não queria falar, mas eu estava morrendo de frio. No
fim valeu a pena, você ficou tão linda naquela blusa maior do que você, eu olhava
pra você e queria te parar ali mesmo, na rua e te beijar, queria dizer o quanto
estava linda naquela minha blusa. O melhor foi quando me devolveu e seu perfume
estava fixo nela. Acredite uma das melhores coisas é quando seu perfume fica em
minhas roupas, em meu corpo. Eu sinto tanta saudade de sentir seu perfume, meu
amor, mas tanta saudade que me dói até.
Fico
imaginando você ai, andando pela neve, com grandes casacos, botas e cachecol.
Você deve ficar tão linda com a neve ao seu redor. Queria tanto poder estar ai
ao seu lado, observando você correr pelo central park ao amanhecer e ver você
voltando do jantar enquanto neva e seu cabelo fica úmido daquela forma que eu
amo.
E
não exagere no café meu amor, deve estar bebendo dois litros por dia sem eu
para te dar bronca. Aqui vai minha bronca: Não fique tomando tanto café se não
você não vai conseguir dormir. (E eu não quero você acordada durante a
madrugada fria, olhando pela janela e pensando em nada e tudo ao mesmo tempo;
eu consigo ver a cena na minha mente, você sentada enfrente a janela e com uma
xícara de café nas mãos).
Você
deve ter entrado no restaurante vegan
só para se lembrar de como é comer salada, fiquei rindo por um tempo ao
imaginar você entrando vergonhosamente no restaurante por saber que não era
vegetariana e saindo de lá deixando quase o prato inteiro. Outra coisa que eu
fiquei imaginando foi você na lanchonete simples, fiquei pensando no modo que
estava vestida e como deve ter sido linda ao comer um lanche enorme que nem
homem. Sinto saudade disso, de ver você comendo aqueles lanches doidos que você
inventava e se sujava toda. Tanta falta faz isso no nosso apartamento, tenho
ficado nele sozinho, olhando para os lugares que você costumava ficar e isso me
deixou tão deprimido. Além é claro de ficar estudando igual um condenado até o
dia em que recebi sua carta.
Eu
parei de estudar, guardei meu material e fui assistir Amizade Colorida. Eu ri
por ver que você deixou o seu DVD sobre minha escrivaninha no escritório, como
se soubesse que eu ia buscar para assistir. Eu ri demais, lembrei também de nós
e fiquei irritado por não te ter aqui, queria olhar pra você e mandar você
parar de olhar encantada para o filme. Fiquei com saudade de te irritar. Fiquei
com falta de quando fazíamos igual Jamie e Dylan no filme, se amávamos e éramos
melhores amigos acima de tudo.
Faz
um mês que você está fora, um mês que seu corpo tem feito falta ao adormecer,
ao tomar banho, ao ir para o trabalho. Sei que fui duro contigo quando a
editora resolveu te mandar para New York, sei que é seu trabalho e que somente
mais dois meses e você está de volta, mas é que... É tão difícil ficar longe de
você. Me sinto como se faltasse parte de mim. Eu olho pro seu lado da cama e
meu peito dói. Eu chego em casa e não tem você ali, me esperando para tomar
sorvete enquanto você escreve e eu estudo. Ai minha pequena, eu não sou de
chorar, mas sua ausência tem feito essas malditas gotas salgadas caírem dos
meus olhos.
Você
comentou de nossas aventuras, de quando eu ia escondido para sua casa, de
quando eu simplesmente virava a noite conversando com você por internet, quando
você matava aula e ia para minha sala. Eu me lembro de tudo isso, como eu
poderia esquecer? Como eu poderia simplesmente não lembrar os melhores momentos
da minha vida?
Como
assim você me mandou uma guitarra? Deve ter saído tão caro pra enviar, ainda
mais com o selo: Urgente! Meu Deus, você é louca? Sim, você é completamente
insana e por isso eu te amo tanto. Mas não me mate dessa maneira. Assim como
não mate minha irmã dando-lhe um kit completo da Apple e simplesmente dizendo
que era um moletom da GAP. Você realmente é insana garota.
Hoje
é dia 24 e é madrugada, pois sei que você deixou para ler esse email somente
agora, faltando 10 minutos para o Natal. Eu te conheço pequena, conheço até
demais.
Fico
por aqui.
Beijos.
Te
amo como jamais outra pessoa.
Assinado:
Alex.
P.S.:
Vá até o telhado agora, GO girl.
Ao
finalmente chegar ao telhado do condomínio, Spencer sorriu. Um sorriso puro,
que expressava de uma forma linda a emoção que sentia. O coração pulsava forte
e a sensação de borboletas no estômago parecia fazê-la voltar ao momento em que
conheceu Alex. O sorriso apenas aumentou quando o namorado tirou da mochila
jogada ao chão uma garrafa grande de Coca-Cola e dois copos plásticos.
―
Você é louco. ― Murmurou a garota, andando em direção a ele.
―
Por você eu sou. ― Respondeu rindo e também caminhando em direção a ela. ― Vim lhe desejar Feliz Natal!
FIM
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